domingo, 30 de dezembro de 2007

STCP

Estive esta manhã a ler as noticias sobre o clima de tensão que se vive por estes dias no Quénia, com confrontos a surgirem por toda a parte. O Consulado Português no Quénia aconselhou a todos os Portugueses prestes a viajar para aquele país a não o fazerem, e aos que já lá se encontram a tomarem precauções adicionais. Tudo isto porque a contagem dos votos para as eleições presidenciais tem sido lenta e existem suspeitas de fraude. Estive no Quénia não há muito tempo, e já nessa altura, sem problemas de maior, havia sempre alguma tensão no ar. Este problema lembra-me um outro que aconteceu não há muito tempo num local onde estive, também, há pouco tempo: o Porto. Por mais que me esforce, não consigo esquecer os hilariantes protestos das gentes da Invicta aquando das alterações das linhas dos STCP, protestos que levaram a violencia e a muitas cenas por demais engraçadas. Que bom que é lembrar (penso isto com um sorriso nos lábios e uma gargalhada prestes a sair). Enquanto no Porto se protestava pela mudança das linhas, em outros locais do mundo protestava-se contra genocidios e crimes violentos, mas com protestos mais calmos claro, uma coisa são crimes e outra é ter de decorar os novos números dos autocarros e ainda por cima ter a maçada de ler folhetos explicativos enquanto se espera mais 2 minutos pelo autocarro do que "no antigamente".

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Para mim, o Natal é ajudar

Esta ano, pela primeira vez, a consoada de Natal foi em minha casa. Este é também, enorme coincidencia, o primeiro ano em que eu tenho, de facto, uma casa. 
Ter de "fazer" o Natal mudou por completo a imagem do Natal que  eu tinha desde miúdo. Desde de criança que a minha mãe me habituou a ajudar. Graças a isso, sou hoje um prendado companheiro que não se furta às crueis tarefas do quotidiano. E a palavra chave é ajudar. Até este ano, eu sempre questionei as razões para a minha mãe estar sempre mal humorada e cansada na véspera de Natal. Depois deste ano, eu questiono as razões para a minha mãe não se ter tornado uma fundamentalista Islâmica de cada vez que um Natal se aproximava. 
Neste Natal, fiquei fã, indiscutivel, da arte de ajudar. Eu sempre ajudei no natal, e sempre detestei ter de ajudar, claro. Para mim, quando miúdo, ajudar era uma arte vil de exploração do trabalho infantil, e por muitas vezes ameacei os meus país com uma denuncia à comissão de protecção de menores, palavras minhas aos 3 anos de idade, pela forma vil com que alguns 10 minutos semanais da minha infancia eram perdidos com trabalhos, leia-se "ajuda" forçada. Nunca percebi como era possivel eu ser obrigado a ajudar. A ajuda deve ser uma coisa voluntária. Eu hoje ajudo quem precisa, na minha opinião ninguém precisa, porque quero, ninguém me pode obrigar a fazê-lo. Quando eu era criança eu era forçado, explorado, a ajudar, era a completa inversão de sentido. Mas este Natal mudou a forma como eu vejo a arte de ajudar. Desde à 3 dias que ajudar é para mim a coisa mais bonita do mundo. Eu, a partir de hoje, quero viver a ajudar as pessoas. Qualquer pessoa, qualquer coisa, eu quero é ajudar. Nunca mais quero é ser eu a fazer, participar. Quem ajuda não participa, só ajuda. E quando falamos no Natal, eu prefiro passar, de novo, a ajudar. 
É pá, então tu também participaste na construção daquele presépio vivo em que o pessoal esteve ali quase 5 horas vestido como palhaços e a rapar um frio dos diabos na noite de Natal!?
 Eu?! Eu não pá, és maluco ou quê?! eu só ajudei....
Ajudar é uma coisa linda. Daqui para a frente eu só quero ajudar. No próximo Natal, quero ir para casa de alguém, chegar lá uma hora antes da hora de jantar e, com o ar mais solicito e encantador, dizer: Olá, já cá estou, vim mais cedo para dar uma ajuda!
Até posso chegar duas horas antes, desde que vá só para ajudar. Eu não estou a criticar quem chega tarde ou muito à hora, nem pensar, qualquer convidado, nem que chegue de manhã, irá sempre só ajudar, e ajudar é sempre um encanto.
Vou ajudar, a sério que sim, espalhar ajuda pelo mundo. Ajudar a empresa em que trabalho a crescer. Ajudar a que o nosso país saia da recessão. Ajudar a minha mãe a fazer o almoço aos domingos. Ajudar a minha mulher a limpar a casa (desde que tenha algum tempo livre). Quando a Marta tiver de ir para o hospital para ter um filho, eu estarei lá para ajudar (lá, na sala de espera). Vou ajudar a trocar as fraldas e a dar banho (posso segurar nos alfinetes ou no champoo. Vou ajudar o meu irmão na faculdade, o meu pai no trabalho e os meus avós na hora da cesta (aqui poderei ser especialmente generoso). Agora fazer, isso não faço mais nada. Nunca mais faço o almoço nem o jantar, nunca mais faço a cama e, muito importante, nunca mais faço nada.
Só vou abrir a excepção para fazer filhos, e até isto é com o intuito de depois poder ajudar na sua educação... 

domingo, 16 de dezembro de 2007

A delicada situação do FCP

Fosse eu adepto do FCP, problema de saúde mental ao qual felizmente estou imune, e começaria a ficar seriamente preocupado com a distancia a que o FCP se está a posicionar relativamente ao segundo lugar. O Porto está neste momento a 10 pontos do Benfica, o que, nesta altura do campeonato, pode significar sério problemas para a equipa nortenha. 10 pontos é uma vantagem extremamente perigosa e difícil de gerir, porque as equipas tendem a descomprimir e o desleixo acaba por tomar lugar, o que, com meio campeonato por correr, é caminho quase certo para a despromoção.  Como dizia um saudoso comentador desportivo" o Sporting, que a meio da segunda parte vencia por 2 bolas a 0, acabou por perder o jogo por 3-2. O 2-0 é um resultado muito perigoso como hoje se veio aqui a provar, e as equipas tendem a não ter a noção desse facto". Daqui se conclui que um bom resultado é estar a perder por 2-0, 3-0 então é um paraíso, é o melhor pronuncio para uma vitória anunciada. 

Daqui concluo que a equipa melhor colocada, neste momento, para vencer este campeonato, é o meu Sporting, que com 12 pontos de atraso tem o máximo de motivação para fazer uma segunda volta imparável e ganhar o campeonato com um tranquilo ponto de vantagem. E que surja aqui algum Luís Freitas Lobo com coragem para me desmentir!

Tocar à campainha e fugir

Tenho saudade do tempo em que vínhamos da escola, tocávamos à campainha e fugíamos.
Por acaso eu nunca tocava à campainha, eu era sempre o gordo apático que ficava para trás a aturar as avózinhas. Porque isso não são coisas que se façam, que meninos mal educados. Os meus colegas, já longe, riam-se que nem uns perdidos. Mas isto durou pouco tempo. Alguns meses bastaram para eu encetar terríveis planos de vingança. Eu tocava às campainhas e dizia para correrem. Eles iam e eu ficava à espera. Quando as avózinhas, furiosas, chegavam à porta, eu fazia o meu relato.
Foram eles, tocaram e fugiram, dizia eu esticando o dedo mais do que podia. 
Eu ainda lhes tentei dizer que não deviam, porque é errado, mas a senhora sabe, são miúdos de rua, não respeitam ninguém. Mas eu fiquei aqui, a dar a cara, e para lhe dar os nomes deles, para, se a senhora quiser, fazer queixa aos pais deles. Que eu não sou queixinhas mas também não gosto de deixar passar estes bandalhos impunes.
As velhotas, enternecidas com a minha honestidade e responsabilidade, lá me mandavam entrar para comer umas bolachinhas com chocolate quente (na altura dizia-se ir beber um nesquique). Deves estar com fome filho, depois de um dia de escola tão grande! Eles agora matam os meninos como tu, não há direito, antigamente os meus filhos quase nem iam à escola, era menos tempo, tinham mais tempo para brincar, e carregar alguns tijolos e sacos de cimento, mas hoje...
Eu, ao fim de 30 segundos, já não ouvia nada, concentrado nos biscoitos e no chocolate. Mal acabava dizia que tinha de me ir embora, para que os meus avós, que me esperavam em casa, não ficassem preocupados. Porque a senhora sabe, andam para aí uns senhores a dar chupa-chupas, eu não aceito, mas depois os nossos pais ficam muito preocupados. Eu é que nunca aceito nenhum chupa-chupa dado por um estranho. Se for uma passa num charro ainda vá que não vá, agora chupa-chupas é que nunca!!!
E lá ia eu triunfante para casa, lanchar claro. Foi assim que cresci, e alarguei.
Eu comia as bolachinhas e o nesquique e os meus colegas pulavam e divertiam-se. Está fácil de ver quem saía a ganhar. Eles desenvolveram o divertimento, eu desenvolvi o intelecto. Hoje, eles trabalham durante o dia numa coisa qualquer que lhes basta para pagar as contas da casa, à noite vão jogar futsal ou bilhar ou ver o FCP na Sporttv do café da vizinha. Eu trabalho durante o dia ou durante a noite, conforme o que vai aparecendo, e nos tempos livres sento-me sozinho frente ao computador a escrever textos que ninguém lê e que também não me rendem nenhum carcanhol. 
É fácil de ver que acabou a ganhar entre mim e aqueles bandalhos!
È verdade, e continuo a gostar muito do nesquique.